sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

CAPOEIRA REGIONAL

Hellio Campos – Mestre Xaréu

Jogo duro pra valer
Criado por Mestre Bimba
Na roda vale rasteira
Rabo de arraia e tarimba

A ginga e a negaça
Distingue o capoeirista
Na volta que o mundo dá
Expressado na fluidez de um passista

O ritual
Chama para o pé do berimbau
Cantando a ladainha da morte
Os capoeiristas jogam no pau

O berimbau dita o ritmo
Banguela e São Bento Grande
Fazendo os capoeiristas dançarem
Na roda da vida, que se expande

No jogo duro e rápido
A rasteira é para derrubar
Com o giro desengonçado do corpo
A esquiva incita a perpetuar

Continuar presente na roda
Saltando os golpes no ar
Agora, banda de costa e vingativa
Os golpes do batuque se faz notar

O jogo encrespa, ficando viril
Os capoeiristas estão se estranhando
Seus corpos reluz o brilho do suor
Tim, tim, dum, dum, é berimbau tocando

O jogo parece não terminar
Tamanha malícia na volta que o mundo dá
Corpos desaprumados de pernas para o ar
Guerreiros, astutos, jogando regioná

Berimbau toca o corrido
Mestre canta! Oi, sim, sim, oi, não, não
O âmago dos capoeiristas estremece
Nos seus corpos sarados é pura emoção


Ai, ai, ai, ai, São Bento me chama
É hora, é hora, da iuna mandinqueira
Nossa Senhora me ajude
Capoeira Regional não é de brincadeira

Eh, viva meu mestre, camará
Foi ele que me ensinou a lutar
Jogo bonito, sagaz e bem ligeiro
Na volta que o mundo dá.

Eh, vamos simbora camará!
O galo cantou. É hora da despedida
Aruandê! Arauandê! É faca de ponta
Água de beber... na capoeira sentida

Eh! Vamos simbora camará
Eh! O mestre mandou dizer
Que a roda vai se findar
O berimbau ficou mudo, o que fazer

Adeus, adeus, boa viagem
Eu vou embora camará
Eu vou com Deus, boa viagem
E Nossa Senhora, camará

RELATÓRIO

1º SEMINÁRIO DE CAPOEIRA VIVA EM REDE E DEBATE
O Seminário foi realizado no dia 31 de outubro de 2008 na Casa da Mandinga e contou com a participação de 39 pessoas, entre elas estavam presentes os mestres Sabiá, Cafuné, Soldado, Pavão e as representantes do Edital do Capoeira Viva, Sra. Maria Antonieta Coordenadora Geral e Franciane S. Figueredo Consultora.
Abriu o Seminário o Mestre Itapoan falando sobre seu projeto o Acervo do Mestre Itapoan, abordou suas dificuldades e fez um relato do trabalho já realizado e equipamentos adquiridos.
Mestre Xaréu explanou sobre o Projeto de Estudo Uma vida na Capoeira Regional informando sobre a implantação do Blog, notícias e comentários, e finalizou apresentando dados parciais biográficos dos mestres, Acordeon, Itapoan, Decanio, Pavão, Ezequiel, Senna, Saci e Cafuné.
Fred Abreu abordou sobre o tema Instituto Jair Moura, objeto do seu Projeto, dizendo do objetivo, avanços, falando de experiências anteriores e como lidar com os recursos, a importância da organização, prestação de contas e de perseguir o plano traçado.
Antonio Liberac falou do seu tema Pesquisadores da Capoeira, sua motivação para desenvolver a pesquisa, contudo enfocou também sobre o parco recurso financeiro para realizar a coleta dos dados, mas principalmente a elaboração do relatório final em forma de documentário. Como saída para tal dificuldade apontou que está tentando solucionar o problema através de convênio com a Universidade Federal do Reconcavo.
Elza Maria Abreu explicou sobre o Projeto Bezouro, Zum, Zum, Zum dizendo ser um projeto audacioso, especialmente por ser um projeto original que envolve as novas tecnologias midiáticas e que para solucionar a dificuldade do pouco recurso financeiro tem procurado contribuições e parcerias com outras intituições.
André Chaves dos Santos, autor do Projeto Gigante the berimbau man, explicitou qual a sua motivação para desenvolver esse projeto. Considera ser um projeto original, pois o foco é produzir um CD-Rum com a participação do Mestre Gigante apresentando músicas de sua autoria, as músicas e toques que mais tocava quando da sua participação junto aos mestres, Bimba, Canjiquinha, Pastinha, Waldemar e tantos outros.
No nosso entendimento e do público presente o Seminário foi de alto nível, com apresentações que primaram pela qualidade da informação e conteúdo, agregado valores importantes com a participação espontânea de alguns participantes que contribuíram com sugestões, esclarecimentos e discussões.
A principal lição tirada do Seminário foi a de percebermos a necessidade do intercambio entre os contemplados no Edital Capoeira Viva 2007, com a finalidade de trocar de experiências, contribuição mútua e principalmente discutir e pensar em sugestões para os próximos editais do Capoeira Viva.
Mestre Xaréu e Mestre Fred Abreu - Coordenadores

terça-feira, 18 de novembro de 2008

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Mestre Decanio


Angelo Augusto Decanio Filho é o aluno mais antigo de Mestre Bimba em atividade. Ingressou no Centro de Cultura Física Regional, em 1938, com a finalidade de aprender jogar Capoeira, ainda como estudante de medicina da Faculdade de Medicina da Bahia, permanecendo versado na Capoeira Regional até a presente data.
Decanio é médico formado pela Faculdade de Medicina da Bahia na década de 30, casado com Maria Isabel Pereira. Professor universitário, capoeirista e, sobretudo, aluno destacado de Mestre Bimba.
Paralelo ao sucesso da medicina, ele também é detentor de um vasto currículo na área esportiva com relevo especial para Capoeira onde conquistou o grau máximo na Capoeira Regional o “Lenço Branco” e de Contramestre de Mestre Bimba no Centro de Cultura Física Regional (CCFR).
O “Lenço Branco” era uma insígnia honorifica que Mestre Bimba outorgava aos alunos de maior destaque na Academia, em especial aqueles que comprovadamente contribuíram para a propagação da Capoeira Regional.
Na Capoeira Regional extrapolou a figura do capoeirista vigoroso e destemido. Decanio assumia outras atribuições: a de orientar Bimba quanto à organização administrativa do orador oficial em eventos, empresário e promotor de vendas de shows folclóricos.
Na literatura especifica escreveu a Herança de Mestre Bimba: filosofia e lógica africanas da Capoeira da Coleção São Salomão, contendo o prefácio de Jorge Amado. Publicou uma outra pérola, o livro A herança de Mestre Pastinha.
Decanio é hoje muito requisitado pelos Grupos de Capoeira brasileiro para ministrar palestras enfocando principalmente a sua história vivida ao lado de Mestre Bimba, o que faz com muita propriedade contagiando sobremaneira os assistentes.


Mestre Acordeon


Ubirajara Guimarães Almeida, conhecido na Capoeira pelo nome de guerra de Acordeon, é natural de Salvador, Bahia, nasceu em 1943, entrou na Academia de Mestre Bimba para aprender Capoeira na década de 50. É um dos alunos formados mais conceituado da Capoeira Regional, reconhecido pelo seu vigor físico, jogo virtuoso, forte, ágil, objetivo e habilidades artísticas.
Em 1964 fundou uma Academia no fundo de sua residência em Boa Vista de Brotas e rapidamente conquistou muitos alunos que foram em busca de algo diferente na Capoeira, um aprendizado fundamentado no jogo duro, na exigência da boa forma física e valorizada pela música e arte.
Bira Acordeon, como também é conhecido, nas rodas de capoeira, sempre se destacou pelo seu senso empreendedor e em 1964 fundou o Grupo Folclórico da Bahia e organizou o show Luanda Silé, posteriormente em 1966 lança o espetáculo Vem Camará: histórias de Capoeira.
Acordeon, como um bom aluno de Bimba, queria ver a Capoeira Regional expandida no mundo, e em 1968, a exemplo de outros capoeiristas, fundou o Grupo Folclórico da Politécnica, dessa maneira levando a Capoeira para o seio da importante instituição universitária baiana.
Novamente volta às competições e durante o Campeonato Brasileiro em 1976, sediado no Rio de Janeiro, onde se sagrou campeão na categoria peso pesado, sendo escolhido na oportunidade como o mais completo capoeirista, o melhor capoeira do campeonato.
Em 1977, integrando a equipe da Ginga Associação de Capoeira sagra-se Campeão Baiano de Capoeira em competição organizada pelo Departamento de Capoeira da Federação Baiana de Pugilismo, numa época de afirmação da Capoeira como esporte.
Em 1978, viajou para os Estados Unidos da América se estabelecendo na Califórnia, precisamente em São Francisco onde montou academia, fundou o Grupo Musical Corpo Santo e como bom músico passou a se apresentar em shows em casas noturnas.
Escreveu dois livros: Capoeira a brazilian art form: history, philosophy, and pratice em 1986, Água de beber, camará!: um bate-papo de capoeira, em 1999. Não parou por ai, gravou sete CD Room de músicas de Capoeira, a maioria de sua autoria.

Mestre Pavão


Eusébio Lobo da Silva (Mestre Pavão), baiano radicado em Campinas, São Paulo, professor adjunto do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), é graduado em Bachelor of Arts pela Southem Illinois University at Edwardsille. S.I.U., Estados Unidos, concluiu o mestrado 1980 na The Katherine Dunham School of Arts and Research, (K.D.S.A.R), USA., apresentando um estudo sobre Capoeira. Em 1993 finalizou seu Doutorado na UNICAMP defendendo a Tese: Método Integral da Dança: um estudo dos exercícios técnicos em dança centrado no aluno. Mais tarde, em 2004 tornou-se Doutor Livre Docente pela UNICAMP com da Tese intitulada: O Corpo na capoeira.
As suas intervenções científicas se estendem a dezenas de publicações em periódicos nacionais, a exemplo dos Cadernos da Pós-Graduação em Artes, Revista Capoeirando da UNICAM, Jornal de Dança do Mercosul e Catálogo da Bienal SESC de Dança de Santos, sempre abordando a capoeira e a dança como temas prediletos de sua investigação. Sua produção técnica, artística e cultural se distingue, não apenas pela numerosa e importantes obras, mas, sobretudo, como diretor artístico, coreógrafo e dançarino, entre outras atividades. Na produção científica se destaca como professor orientador de Monografias de Cursos de Especialização, Dissertação de Mestrado e Teses de Doutorado e em Programa de Iniciação Científica, onde encontramos uma gama enorme de trabalhos relacionados com a Capoeira no seu sentido mais original e criativo.
Aluno formado na Capoeira Regional pela Academia de Mestre Bimba em 1972 cuja festa de formatura foi realizada em Mataripe, Bahia. Eusébio reportando-se sobre sua vida, dizendo “foi com a capoeira, no início, no fundo do quintal e na porta de casa, com meu primeiro mestre, Lupa do Garcia, que comecei a ler o mundo”. Diz ainda que muitas pessoas não o compreendem, muito bem, chegam mesmo a confundir, pensando ser ele apenas um dançarino ou mesmo um dançarino capoeirista. E faz a sua interpretação vislumbrando a sua imagem e sentimento afirmando “sempre me sentir um capoeirista que joga, luta e dança, como é a própria natureza da capoeira, que ginga na vida”.
Eusébio não titubeou partiu para a nova experiência, morou nos Estados Unidos da América, estudou dança na Universidade do Sul de Illinois e ministro aulas de Capoeira e danças brasileira. O seu esforço, talento e determinação foram os pontos positivos que o fizeram galgar um cobiçado posto, um lugar na Galeria de Dançarinos Dunham e ser reconhecido entre as cinco pessoas do mundo a obter o grau de mestre na Técnica Dunham.


Mestre Eziquiel



Eziquiel Martins Marinho, conhecido na Capoeira como Mestre Eziquiel, nasceu em 18 de outubro de 1941, em São Gonçalo dos Campos, Bahia, pertenceu a Polícia Militar, onde ministrou aulas de Capoeira.
Em meados da década de 60, foi levado pelo Mestre Sacy para Academia de Mestre Bimba, chegando motivado, bem desenvolto nos movimentos, demonstrando talento e gosto pela arte. Logo se entusiasmou pela Capoeira esporte, participando dos campeonatos, baiano, e mais tarde sagrou-se bi-campeão brasileiro em 1976 e 1977 na cidade do Rio de Janeiro, recebendo nesta oportunidade o “Troféu de Melhor Ginga”.
Participou dos Grupos Folclóricos Olodum e Olodumaré onde teve o privilégio de representar a Bahia e o Brasil em dois importantes eventos: Festival Internacional de Folclore, em Salta, na Argentina obtendo a medalha de ouro, e em Quito, no Equador. Nestas oportunidades o Grupo sagrou-se campeão de Folclore, recebendo honrosamente premiação “Huminaua de Oro”.
Inquieto e trabalhando sobremaneira pela Capoeira Regional, fundou o Grupo Luanda, cuja temática principal era preservar a metodologia utilizada por Mestre Bimba, sempre realizava os batizados, exames e formaturas aos moldes do seu mestre.
Eziquiel o “Jiquié” foi jogar Capoeira em outras “rodas” precocemente, faleceu, no dia 26 de março de 1997, e no seu enterro, amigos, alunos e capoeirista realizaram uma roda de capoeira de despedida cantando músicas de sua autoria.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Mestre Senna


Carlos Senna nasceu em 28 de outubro de 1931, na cidade de Salvador, Bahia. Iniciou sua caminhada na Capoeira em 1949, pelas mãos do Mestríssimo Mestre Bimba, como gostava de citar em qualquer lugar que estivesse. Aluno muito aplicado logrou sua formatura na Capoeira Regional em 1950 e era também conhecido como Senna Preto.
Como gozava da confiança de Mestre Bimba, assumiu a função de Diretor Técnico do C.C.F.R. em 1954. Todavia, essa atribuição não foi duradoura, visto que em 25 de outubro de 1955, fundou o Centro de Pesquisa, Estudo e Instrução Senavox, o que causou certo mal-estar entre ele e Bimba, com sérios reflexos para os companheiros da Capoeira Regional. O centro Senavox tinha como atividade precípua o ensino da Capoeira Estilizada balizada nos conhecimentos da Capoeira Regional e diferenciada na forma, no intuito claro de mostrar à comunidade capoeirística, que tinha vida própria, por isso mesmo o termo Senavox representa a Voz de Senna.
Pesquisador nato investigou e introduziu o uso do Abadá, um traje para ser usado pelos capoeiristas, baseado nas roupas dos carroceiros, estivadores, trapicheiros. Criou também uma saudação específica, onde o capoeirista colocava a palma da mão direita no peito, na altura do coração e pronúncia a palavra Salve, ao tempo, em que faz um gesto suave de cumprimento ao companheiro de jogo.
Um feito marcante de Senna foi à introdução dos cursos de Capoeira nos Clubes Sociais da Bahia, a exemplo do Baiano de Tênis e da Associação Atlética da Bahia, tidos na época como os clubes que reunia a nata da sociedade baiana. Esse fato trouxe uma nova dimensão para a capoeiragem baiana, justamente, porque a Capoeira dava um salto qualitativo, resistindo aos preconceitos de uma sociedade hegemônica que considerava a prática da Capoeira como uma atividade menor e até mesmo perigosa, mestre Senna também é o responsável pelo acolhimento da Capoeira nas Escolas.
Duas outras realizações do Mestre Senna merecem ser lembrada. Ele foi fundador Instituto Brasileiro de Estudos de Capoeira (IBEC), juntamente com os companheiros capoeiristas, Arára, Itapoan, Arcordeon e Sacy. A outra foi o esforço que desprendeu ao lado de Itapoan e Dona Alice para fazer o translado dos restos mortais de Mestre Bimba de Goiânia para Salvador, que contou com o apoio da Prefeitura Municipal de Salvador. As contribuições do Mestre Senna foram realizadas com coração e idealismo, permanecendo viva na memória dos capoeiristas, nos livros, artigos, fotos e documentos para a posteridade.

sábado, 20 de setembro de 2008

Mestre Itapoan


RAIMUNDO CESAR ALVES DE ALMEIDA, Nasceu em 13 de agosto de 1947, em Salvador, Bahia, no bairro de Quintas, rua Gonçalo Muniz. Conhecido na Capoeira Regional pelo nome de guerra ITAPOAN em decorrência de morar no bairro de Itapuã.
Itapoan sempre foi muito aficionado à Capoeira e por se dedicar exaustivamente aos treinamentos desenvolveu um estilo próprio de jogar, apresentado uma ginga fácil, larga, maliciosa, negaceada e golpes precisos. Ele estava o tempo todo perseguindo o conhecimento, investigando sobre seu objeto de curiosidade, para isso realizava longas conversas com Mestre Bimba onde bisbilhotava sobre a vida dos capoeiristas famosos da Bahia, ouvindo atentamente as histórias contadas por Bimba. O mais incrível é que se interessava pelos acontecimentos ocorridos na Academia, a trajetória dos principais capoeiristas do CCFR, participava intensamente da vida da Capoeira Regional, colecionava coisas (jornais, fotos, revistas, adereços, etc) da Capoeira e já utilizava apontamentos da aula.
No contexto da Capoeira esporte, Itapoan disputou campeonatos internos da Academia de Mestre Bimba, Campeonatos Universitários, organizados pela Federação Universitária Baiana de Esportes e Federação Baiana de Pugilismo. Nesses eventos conquistou inúmeros títulos: Campeão do Torneio Mestre Bimba no C.C.F.R., 1970 e 1971; Campeão Baiano Universitário (duplas e individual); Tri-Campeão Baiano de Capoeira na qualidade de técnico, pela Ginga Associação de Capoeira. Na área acadêmica, é professor adjunto da Faculdade de Odontologia da UFBA, foi o primeiro professor da disciplina Capoeira I e Capoeira II do curso de Educação Física da UFBA.
Na trajetória para divulgar a Capoeira Regional enveredou na literatura escrevendo os livros Bimba, perfil do Mestre em 1982; Atenilo o relâmpago da Capoeira Regional em 1988; Bibliografia crítica da capoeira em 1993; A saga de Mestre Bimba em 1994; e Capoeira: retalhos da roda em 2005. Além desses trabalhos, idealizou e editou também a Revista Negaça, um boletim informativo da Ginga Associação de Capoeira. Já publicou dezenas de artigos para periódicos especializados, também é muito requisitado para dar entrevistas e fazer comentários sobre a arte da Capoeira.
Em 1972, fundou a Ginga Associação de Capoeira, juntamente com o Mestre Xaréu que desenvolvem, trabalhos culturais, educativos e esportivos, com enfoque para a preservação da filosofia da Capoeira Regional e formação de novos mestres. Na sua caminhada, fundou em 1980 a Associação Brasileira dos Professores de Capoeira (ABPC) estando à frente dessa associação em diversas ocasiões. Em 1984 foi o mentor principal da fundação da Federação Baiana de Capoeira (FBC) assumindo a vice-presidência na primeira gestão, hoje, pertence ao quadro do Conselho de Mestres da Confederação Brasileira de Capoeira.
Mestre Itapoan teve o seu trabalho em pró da Capoeira reconhecido pelo Governo Brasileiro recebendo do Ministério de Educação e Cultura (MEC) e Conselho Nacional de Desporto (CND), em 1990 a maior condecoração esportiva do Brasil, a distinção do “Mérito Desportivo Nacional”. O esforço e as contribuições de Itapoan em pró da Capoeira Regional são inúmeras, na verdade faz parte da sua existência,. É uma filosofia de vida, é uma vida dedicada a Capoeira e a Mestre Bimba.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Mestre Bimba


Manoel dos Reis Machado (Mestre Bimba) nasceu em 23 de novembro de 1900, no bairro de Engenho Velho de Brotas, antiga Freguesia de Brotas em Salvador, Bahia, pouco mais de uma década após a Abolição da Escravatura. Filho de Luís Cândido Machado, caboclo natural de Feira de Santana, famoso campeão baiano de batuque, e de Maria Martinha do Bomfim. Foi carvoeiro, doqueiro, trapicheiro, carpinteiro, mas, principalmente, capoeirista. Mestre de capoeira foi condição adquirida por reconhecimento popular e pelo respeito da sociedade, numa época em que a perseguição às manifestações da cultura negra era muito intensa e perversa.
O seu apelido de Bimba foi resultado de uma aposta de sua mãe com a parteira que o “aparou”, ou seja, fez seu parto. Sua mãe afirmava veementemente que iria dar à luz a uma menina, tinha plena certeza e a parteira dizia que seria um homem. A aposta se consubstanciou e, ao nascer o menino, a parteira aconchegando-o à mãe e fez questão de lhe dizer olhe a “bimbinha” dele e esse cognome o acompanhou por toda sua vida.
Bimba, o caçula de Dona Martinha, iniciou-se na capoeira na tenra idade e seu mestre foi o africano Nozinho Bento, o Bentinho, Capitão da Companhia de Navegação Baiana. Aos 14 anos passou a se interessar pelo Candomblé do Senhor Vidal, um terreiro de nação Ketu que acontecia no Engenho Velho de Brotas e aos 20 anos tornou-se ogâ.
Mestre Bimba descontente com a capoeira praticada na época, por entender que estava perdendo a sua essência, a luta de resistência, resolveu criar a Capoeira Regional, também chamada de Luta Regional Baiana. Para criar a Capoeira Regional usou dos seus conhecimentos da Capoeira Angola, aprendida com o mestre Bentinho e do Batuque, uma luta braba e violenta da qual seu pai era um famoso campeão.
Alguns autores atribuem esse feito de Bimba como um marco da capoeiragem baiana. Para Luiz Renato Vieira “Mestre Bimba é um agente de mudança”, Carybé “ Bimba é o Lutero da Capoeira”, Esdras Santos (Damião) considera “Mestre Bimba um líder autêntico, O Rei Negro, Muniz Sodré “ uma das últimas figuras que se poderia chamar de ciclo heróico dos negros na Bahia” , Fred Abreu “um legítimo herdeiro da diplomacia afro-brasileira”, Decanio “Bimba não é gente, Bimba é um semi-deus encarnado, Bimba não vai ser repetido” e Itapoan diz ser “Bimba muito grande para caber em uma obra só é um verdadeiro mestre”.
Mestre Bimba para difundir a Capoeira Regional ousou, pois não media esforços em mostrar sua arte, como sempre dizia, queria tirar a Capoeira debaixo do pé do boi. Por esse motivo registrou o CCFR na Secretaria de Educação Saúde e Assistência Pública do Estado da Bahia recebendo o diploma de Instrutor de Educação Física.
Para alcançar seu objetivo na década de 30 subiu ao ringue e foi considerado o Bamba. O Jornal A Tarde de 16 de março de 1936 destaca em reportagem “Mestre Bimba.” “campeão na capoeira” desafia todos os luctadores bahianos”. Não satisfeito reuniu seus alunos mais brilhantes da época e foi mostrar sua Capoeira Regional no sul do país.
Mestre bimba inovou, suscitou uma nova abordagem pedagógica para a Capoeira: montou academia, estabeleceu aulas, lições, turmas de alunos, método, lembretes avisos, livro de matrícula, eventos como os batizados, formaturas e shows folclóricos.
Mestre Bimba por ser reconhecido como uma personalidade que contribuiu de maneira marcante e relevante em pró da Ciência, Letra, Educação, Arte e Cultura, no cenário internacional, nacional e especialmente baiano, foi outorgado com muitos prêmios e homenagens: Doutor Honoris Causa da UFBA, Obelisco na Praça do Capoeirista, Rua Mestre Bimba no Nordeste de Amaralina, Alameda Mestre Bimba no Shopping Iguatemi, Medalha Thomé de Souza da Câmara Municipal do Salvador, Mérito da Cultura do Ministério da Cultura, Vale transporte pela SETPS, mas entendemos que Mestre Bimba recebe todos os dias em todas as rodas de capoeira a principal homenagem que deixa ele cada vez mais presente, ao ser lembrado no canto da ladainha,nas quadras, corridos e no jogo bonito da Regional.
Mas, Mestre Bimba deixou sua terra natal, Salvador – Bahia em 1973 e foi para Goiânia. Como disse, estava indo para outra cidade em busca de novas oportunidades e reconhecimento. Ele tinha uma mágoa no peito decorrente da pouca gratidão dos governantes baianos, contudo a sua estada em Goiânia foi de dificuldades, sofrimento e desesperança e em 1974 não suportando mais as injúrias veio a falecer depois de sentir-se mal durante uma apresentação de Capoeira.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Uma vida na capoeira regional: os seguidores de Mestre Bimba

O projeto de pesquisa intitulado UMA VIDA NA CAPOEIRA REGIONAL: OS SEGUIDORES DE MESTRE BIMBA têm como objetivo estudar biograficamente os alunos de Mestre Bimba que se tornaram mestres de capoeira, motivados pelo método e filosofia da Capoeira Regional. A pesquisa é de natureza qualitativa e tem as características de um estudo histórico-descritivo-biográfico-antropológico. A população amostra será de inicialmente 15 alunos de Mestre Bimba que tenham tido experiência em ensinar capoeira ao longo da vida. A relevância do estudo está em ser uma investigação original e inédita que poderá contribuir de maneira singular no conhecimento sobre a obra e filosofia de Mestre Bimba. Além disso, poderá abrir uma janela para futuras pesquisas biográficas ainda incipiente no ambiente da capoeira. Essa pesquisa servirá para ampliar os conhecimentos de estudantes, professores, pesquisadores e capoeiristas.
Registramos que esse estudo foi premiado no Edital Capoeira Viva de 2007 do Ministério da Cultura na Linha de Incentivo para Projetos inéditos de estudo, pesquisas, inventários e documentação sobre o desenvolvimento da capoeira no Brasil e no exterior, história de vida dos mestres e detentores da sabedoria tradicional da capoeira, processo de formação de novos mestres que possam contribuir para o avanço dos conhecimentos científico sobre o tema.