quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Mestre Bimba


Manoel dos Reis Machado (Mestre Bimba) nasceu em 23 de novembro de 1900, no bairro de Engenho Velho de Brotas, antiga Freguesia de Brotas em Salvador, Bahia, pouco mais de uma década após a Abolição da Escravatura. Filho de Luís Cândido Machado, caboclo natural de Feira de Santana, famoso campeão baiano de batuque, e de Maria Martinha do Bomfim. Foi carvoeiro, doqueiro, trapicheiro, carpinteiro, mas, principalmente, capoeirista. Mestre de capoeira foi condição adquirida por reconhecimento popular e pelo respeito da sociedade, numa época em que a perseguição às manifestações da cultura negra era muito intensa e perversa.
O seu apelido de Bimba foi resultado de uma aposta de sua mãe com a parteira que o “aparou”, ou seja, fez seu parto. Sua mãe afirmava veementemente que iria dar à luz a uma menina, tinha plena certeza e a parteira dizia que seria um homem. A aposta se consubstanciou e, ao nascer o menino, a parteira aconchegando-o à mãe e fez questão de lhe dizer olhe a “bimbinha” dele e esse cognome o acompanhou por toda sua vida.
Bimba, o caçula de Dona Martinha, iniciou-se na capoeira na tenra idade e seu mestre foi o africano Nozinho Bento, o Bentinho, Capitão da Companhia de Navegação Baiana. Aos 14 anos passou a se interessar pelo Candomblé do Senhor Vidal, um terreiro de nação Ketu que acontecia no Engenho Velho de Brotas e aos 20 anos tornou-se ogâ.
Mestre Bimba descontente com a capoeira praticada na época, por entender que estava perdendo a sua essência, a luta de resistência, resolveu criar a Capoeira Regional, também chamada de Luta Regional Baiana. Para criar a Capoeira Regional usou dos seus conhecimentos da Capoeira Angola, aprendida com o mestre Bentinho e do Batuque, uma luta braba e violenta da qual seu pai era um famoso campeão.
Alguns autores atribuem esse feito de Bimba como um marco da capoeiragem baiana. Para Luiz Renato Vieira “Mestre Bimba é um agente de mudança”, Carybé “ Bimba é o Lutero da Capoeira”, Esdras Santos (Damião) considera “Mestre Bimba um líder autêntico, O Rei Negro, Muniz Sodré “ uma das últimas figuras que se poderia chamar de ciclo heróico dos negros na Bahia” , Fred Abreu “um legítimo herdeiro da diplomacia afro-brasileira”, Decanio “Bimba não é gente, Bimba é um semi-deus encarnado, Bimba não vai ser repetido” e Itapoan diz ser “Bimba muito grande para caber em uma obra só é um verdadeiro mestre”.
Mestre Bimba para difundir a Capoeira Regional ousou, pois não media esforços em mostrar sua arte, como sempre dizia, queria tirar a Capoeira debaixo do pé do boi. Por esse motivo registrou o CCFR na Secretaria de Educação Saúde e Assistência Pública do Estado da Bahia recebendo o diploma de Instrutor de Educação Física.
Para alcançar seu objetivo na década de 30 subiu ao ringue e foi considerado o Bamba. O Jornal A Tarde de 16 de março de 1936 destaca em reportagem “Mestre Bimba.” “campeão na capoeira” desafia todos os luctadores bahianos”. Não satisfeito reuniu seus alunos mais brilhantes da época e foi mostrar sua Capoeira Regional no sul do país.
Mestre bimba inovou, suscitou uma nova abordagem pedagógica para a Capoeira: montou academia, estabeleceu aulas, lições, turmas de alunos, método, lembretes avisos, livro de matrícula, eventos como os batizados, formaturas e shows folclóricos.
Mestre Bimba por ser reconhecido como uma personalidade que contribuiu de maneira marcante e relevante em pró da Ciência, Letra, Educação, Arte e Cultura, no cenário internacional, nacional e especialmente baiano, foi outorgado com muitos prêmios e homenagens: Doutor Honoris Causa da UFBA, Obelisco na Praça do Capoeirista, Rua Mestre Bimba no Nordeste de Amaralina, Alameda Mestre Bimba no Shopping Iguatemi, Medalha Thomé de Souza da Câmara Municipal do Salvador, Mérito da Cultura do Ministério da Cultura, Vale transporte pela SETPS, mas entendemos que Mestre Bimba recebe todos os dias em todas as rodas de capoeira a principal homenagem que deixa ele cada vez mais presente, ao ser lembrado no canto da ladainha,nas quadras, corridos e no jogo bonito da Regional.
Mas, Mestre Bimba deixou sua terra natal, Salvador – Bahia em 1973 e foi para Goiânia. Como disse, estava indo para outra cidade em busca de novas oportunidades e reconhecimento. Ele tinha uma mágoa no peito decorrente da pouca gratidão dos governantes baianos, contudo a sua estada em Goiânia foi de dificuldades, sofrimento e desesperança e em 1974 não suportando mais as injúrias veio a falecer depois de sentir-se mal durante uma apresentação de Capoeira.

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