sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Mestre Senna


Carlos Senna nasceu em 28 de outubro de 1931, na cidade de Salvador, Bahia. Iniciou sua caminhada na Capoeira em 1949, pelas mãos do Mestríssimo Mestre Bimba, como gostava de citar em qualquer lugar que estivesse. Aluno muito aplicado logrou sua formatura na Capoeira Regional em 1950 e era também conhecido como Senna Preto.
Como gozava da confiança de Mestre Bimba, assumiu a função de Diretor Técnico do C.C.F.R. em 1954. Todavia, essa atribuição não foi duradoura, visto que em 25 de outubro de 1955, fundou o Centro de Pesquisa, Estudo e Instrução Senavox, o que causou certo mal-estar entre ele e Bimba, com sérios reflexos para os companheiros da Capoeira Regional. O centro Senavox tinha como atividade precípua o ensino da Capoeira Estilizada balizada nos conhecimentos da Capoeira Regional e diferenciada na forma, no intuito claro de mostrar à comunidade capoeirística, que tinha vida própria, por isso mesmo o termo Senavox representa a Voz de Senna.
Pesquisador nato investigou e introduziu o uso do Abadá, um traje para ser usado pelos capoeiristas, baseado nas roupas dos carroceiros, estivadores, trapicheiros. Criou também uma saudação específica, onde o capoeirista colocava a palma da mão direita no peito, na altura do coração e pronúncia a palavra Salve, ao tempo, em que faz um gesto suave de cumprimento ao companheiro de jogo.
Um feito marcante de Senna foi à introdução dos cursos de Capoeira nos Clubes Sociais da Bahia, a exemplo do Baiano de Tênis e da Associação Atlética da Bahia, tidos na época como os clubes que reunia a nata da sociedade baiana. Esse fato trouxe uma nova dimensão para a capoeiragem baiana, justamente, porque a Capoeira dava um salto qualitativo, resistindo aos preconceitos de uma sociedade hegemônica que considerava a prática da Capoeira como uma atividade menor e até mesmo perigosa, mestre Senna também é o responsável pelo acolhimento da Capoeira nas Escolas.
Duas outras realizações do Mestre Senna merecem ser lembrada. Ele foi fundador Instituto Brasileiro de Estudos de Capoeira (IBEC), juntamente com os companheiros capoeiristas, Arára, Itapoan, Arcordeon e Sacy. A outra foi o esforço que desprendeu ao lado de Itapoan e Dona Alice para fazer o translado dos restos mortais de Mestre Bimba de Goiânia para Salvador, que contou com o apoio da Prefeitura Municipal de Salvador. As contribuições do Mestre Senna foram realizadas com coração e idealismo, permanecendo viva na memória dos capoeiristas, nos livros, artigos, fotos e documentos para a posteridade.

sábado, 20 de setembro de 2008

Mestre Itapoan


RAIMUNDO CESAR ALVES DE ALMEIDA, Nasceu em 13 de agosto de 1947, em Salvador, Bahia, no bairro de Quintas, rua Gonçalo Muniz. Conhecido na Capoeira Regional pelo nome de guerra ITAPOAN em decorrência de morar no bairro de Itapuã.
Itapoan sempre foi muito aficionado à Capoeira e por se dedicar exaustivamente aos treinamentos desenvolveu um estilo próprio de jogar, apresentado uma ginga fácil, larga, maliciosa, negaceada e golpes precisos. Ele estava o tempo todo perseguindo o conhecimento, investigando sobre seu objeto de curiosidade, para isso realizava longas conversas com Mestre Bimba onde bisbilhotava sobre a vida dos capoeiristas famosos da Bahia, ouvindo atentamente as histórias contadas por Bimba. O mais incrível é que se interessava pelos acontecimentos ocorridos na Academia, a trajetória dos principais capoeiristas do CCFR, participava intensamente da vida da Capoeira Regional, colecionava coisas (jornais, fotos, revistas, adereços, etc) da Capoeira e já utilizava apontamentos da aula.
No contexto da Capoeira esporte, Itapoan disputou campeonatos internos da Academia de Mestre Bimba, Campeonatos Universitários, organizados pela Federação Universitária Baiana de Esportes e Federação Baiana de Pugilismo. Nesses eventos conquistou inúmeros títulos: Campeão do Torneio Mestre Bimba no C.C.F.R., 1970 e 1971; Campeão Baiano Universitário (duplas e individual); Tri-Campeão Baiano de Capoeira na qualidade de técnico, pela Ginga Associação de Capoeira. Na área acadêmica, é professor adjunto da Faculdade de Odontologia da UFBA, foi o primeiro professor da disciplina Capoeira I e Capoeira II do curso de Educação Física da UFBA.
Na trajetória para divulgar a Capoeira Regional enveredou na literatura escrevendo os livros Bimba, perfil do Mestre em 1982; Atenilo o relâmpago da Capoeira Regional em 1988; Bibliografia crítica da capoeira em 1993; A saga de Mestre Bimba em 1994; e Capoeira: retalhos da roda em 2005. Além desses trabalhos, idealizou e editou também a Revista Negaça, um boletim informativo da Ginga Associação de Capoeira. Já publicou dezenas de artigos para periódicos especializados, também é muito requisitado para dar entrevistas e fazer comentários sobre a arte da Capoeira.
Em 1972, fundou a Ginga Associação de Capoeira, juntamente com o Mestre Xaréu que desenvolvem, trabalhos culturais, educativos e esportivos, com enfoque para a preservação da filosofia da Capoeira Regional e formação de novos mestres. Na sua caminhada, fundou em 1980 a Associação Brasileira dos Professores de Capoeira (ABPC) estando à frente dessa associação em diversas ocasiões. Em 1984 foi o mentor principal da fundação da Federação Baiana de Capoeira (FBC) assumindo a vice-presidência na primeira gestão, hoje, pertence ao quadro do Conselho de Mestres da Confederação Brasileira de Capoeira.
Mestre Itapoan teve o seu trabalho em pró da Capoeira reconhecido pelo Governo Brasileiro recebendo do Ministério de Educação e Cultura (MEC) e Conselho Nacional de Desporto (CND), em 1990 a maior condecoração esportiva do Brasil, a distinção do “Mérito Desportivo Nacional”. O esforço e as contribuições de Itapoan em pró da Capoeira Regional são inúmeras, na verdade faz parte da sua existência,. É uma filosofia de vida, é uma vida dedicada a Capoeira e a Mestre Bimba.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Mestre Bimba


Manoel dos Reis Machado (Mestre Bimba) nasceu em 23 de novembro de 1900, no bairro de Engenho Velho de Brotas, antiga Freguesia de Brotas em Salvador, Bahia, pouco mais de uma década após a Abolição da Escravatura. Filho de Luís Cândido Machado, caboclo natural de Feira de Santana, famoso campeão baiano de batuque, e de Maria Martinha do Bomfim. Foi carvoeiro, doqueiro, trapicheiro, carpinteiro, mas, principalmente, capoeirista. Mestre de capoeira foi condição adquirida por reconhecimento popular e pelo respeito da sociedade, numa época em que a perseguição às manifestações da cultura negra era muito intensa e perversa.
O seu apelido de Bimba foi resultado de uma aposta de sua mãe com a parteira que o “aparou”, ou seja, fez seu parto. Sua mãe afirmava veementemente que iria dar à luz a uma menina, tinha plena certeza e a parteira dizia que seria um homem. A aposta se consubstanciou e, ao nascer o menino, a parteira aconchegando-o à mãe e fez questão de lhe dizer olhe a “bimbinha” dele e esse cognome o acompanhou por toda sua vida.
Bimba, o caçula de Dona Martinha, iniciou-se na capoeira na tenra idade e seu mestre foi o africano Nozinho Bento, o Bentinho, Capitão da Companhia de Navegação Baiana. Aos 14 anos passou a se interessar pelo Candomblé do Senhor Vidal, um terreiro de nação Ketu que acontecia no Engenho Velho de Brotas e aos 20 anos tornou-se ogâ.
Mestre Bimba descontente com a capoeira praticada na época, por entender que estava perdendo a sua essência, a luta de resistência, resolveu criar a Capoeira Regional, também chamada de Luta Regional Baiana. Para criar a Capoeira Regional usou dos seus conhecimentos da Capoeira Angola, aprendida com o mestre Bentinho e do Batuque, uma luta braba e violenta da qual seu pai era um famoso campeão.
Alguns autores atribuem esse feito de Bimba como um marco da capoeiragem baiana. Para Luiz Renato Vieira “Mestre Bimba é um agente de mudança”, Carybé “ Bimba é o Lutero da Capoeira”, Esdras Santos (Damião) considera “Mestre Bimba um líder autêntico, O Rei Negro, Muniz Sodré “ uma das últimas figuras que se poderia chamar de ciclo heróico dos negros na Bahia” , Fred Abreu “um legítimo herdeiro da diplomacia afro-brasileira”, Decanio “Bimba não é gente, Bimba é um semi-deus encarnado, Bimba não vai ser repetido” e Itapoan diz ser “Bimba muito grande para caber em uma obra só é um verdadeiro mestre”.
Mestre Bimba para difundir a Capoeira Regional ousou, pois não media esforços em mostrar sua arte, como sempre dizia, queria tirar a Capoeira debaixo do pé do boi. Por esse motivo registrou o CCFR na Secretaria de Educação Saúde e Assistência Pública do Estado da Bahia recebendo o diploma de Instrutor de Educação Física.
Para alcançar seu objetivo na década de 30 subiu ao ringue e foi considerado o Bamba. O Jornal A Tarde de 16 de março de 1936 destaca em reportagem “Mestre Bimba.” “campeão na capoeira” desafia todos os luctadores bahianos”. Não satisfeito reuniu seus alunos mais brilhantes da época e foi mostrar sua Capoeira Regional no sul do país.
Mestre bimba inovou, suscitou uma nova abordagem pedagógica para a Capoeira: montou academia, estabeleceu aulas, lições, turmas de alunos, método, lembretes avisos, livro de matrícula, eventos como os batizados, formaturas e shows folclóricos.
Mestre Bimba por ser reconhecido como uma personalidade que contribuiu de maneira marcante e relevante em pró da Ciência, Letra, Educação, Arte e Cultura, no cenário internacional, nacional e especialmente baiano, foi outorgado com muitos prêmios e homenagens: Doutor Honoris Causa da UFBA, Obelisco na Praça do Capoeirista, Rua Mestre Bimba no Nordeste de Amaralina, Alameda Mestre Bimba no Shopping Iguatemi, Medalha Thomé de Souza da Câmara Municipal do Salvador, Mérito da Cultura do Ministério da Cultura, Vale transporte pela SETPS, mas entendemos que Mestre Bimba recebe todos os dias em todas as rodas de capoeira a principal homenagem que deixa ele cada vez mais presente, ao ser lembrado no canto da ladainha,nas quadras, corridos e no jogo bonito da Regional.
Mas, Mestre Bimba deixou sua terra natal, Salvador – Bahia em 1973 e foi para Goiânia. Como disse, estava indo para outra cidade em busca de novas oportunidades e reconhecimento. Ele tinha uma mágoa no peito decorrente da pouca gratidão dos governantes baianos, contudo a sua estada em Goiânia foi de dificuldades, sofrimento e desesperança e em 1974 não suportando mais as injúrias veio a falecer depois de sentir-se mal durante uma apresentação de Capoeira.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Uma vida na capoeira regional: os seguidores de Mestre Bimba

O projeto de pesquisa intitulado UMA VIDA NA CAPOEIRA REGIONAL: OS SEGUIDORES DE MESTRE BIMBA têm como objetivo estudar biograficamente os alunos de Mestre Bimba que se tornaram mestres de capoeira, motivados pelo método e filosofia da Capoeira Regional. A pesquisa é de natureza qualitativa e tem as características de um estudo histórico-descritivo-biográfico-antropológico. A população amostra será de inicialmente 15 alunos de Mestre Bimba que tenham tido experiência em ensinar capoeira ao longo da vida. A relevância do estudo está em ser uma investigação original e inédita que poderá contribuir de maneira singular no conhecimento sobre a obra e filosofia de Mestre Bimba. Além disso, poderá abrir uma janela para futuras pesquisas biográficas ainda incipiente no ambiente da capoeira. Essa pesquisa servirá para ampliar os conhecimentos de estudantes, professores, pesquisadores e capoeiristas.
Registramos que esse estudo foi premiado no Edital Capoeira Viva de 2007 do Ministério da Cultura na Linha de Incentivo para Projetos inéditos de estudo, pesquisas, inventários e documentação sobre o desenvolvimento da capoeira no Brasil e no exterior, história de vida dos mestres e detentores da sabedoria tradicional da capoeira, processo de formação de novos mestres que possam contribuir para o avanço dos conhecimentos científico sobre o tema.